Refletindo sobre o problema da escala das pequenas cidades num mundo globalizado onde, “num contexto de fortíssima competição entre cidades”, as políticas culturais surgem como fator decisivo de diferenciação, João Teixeira Lopes analisa a heterogeneidade de funções atribuídas às políticas culturais a nível municipal. Do “presidencialismo municipalista” à utilização da Cultura como legitimação de investimento noutras áreas, nomeadamente turismo e desporto; do papel na criação de novas imagens da Cidade - desde mero marketing tradicionalista até a uma nova legibilidade; o desafio para as políticas municipais de cultura é aqui exposto de forma abrangente.
Em contraste, Marcelo Expósito Prieto apresenta uma análise da relação íntima entre as políticas culturais e a promoção do neoliberalismo vigente, onde a cultura se aplicou às cidades como estratégia de gentrificação: "Quando o modelo das políticas culturais orientadas para o fomento das indústrias criativas toma corpo nos anos noventa, fá-lo - não por azar - nos anos duros da hegemonia neoliberal e da conversão das cidades em marcas que têm a necessidade de se diferenciar e destacar nos mercados da globalização. Teóricos como Angela McRobbie ou George Yúdice analisaram com detalhe como a industrialização da criatividade tem promovido a desindustrialização das periferias ou a devastação mercantil dos centros urbanos, e condenou a classe média a uma vida de precariedade laboral e instabilidade existencial vividas de forma contraditória numa bolha de euforia."
Os serviços públicos de cultura apresentam diferentes graus de desenvolvimento no território. A expansão de bibliotecas, arquivos e museus do pós 25 de abril, não foi acompanhada dos meios que garantiriam o seu papel numa verdadeira política de democratização de equipamentos culturais, um problema que Maria Luísa Cabral explora. Em paralelo, Margarida Moleiro critica os “4 Dramas dos Museus Municipais”: a “ausência de estratégia”, onde a ausência de objetivos e uma missão clara para os museus coloca-os ao serviço da “moda” institucional do momento (a lógica turística, hoje); a “falta de reconhecimento”, onde os museus municipais são tratados como troféus mediáticos sem outra função que não a de recipientes de uma vaga memória coletiva; a “inexistência de recursos humanos” e, por fim, a “escassez orçamental”.
Rui Matoso explora a resposta programática que a esquerda deve explorar nos municípios, com uma visão onde "os movimentos sociais, as organizações e os atores sociais comprometidos com a defesa de uma sociedade civil plenamente desenvolvida, onde predomine uma cidadania activa, responsável e emancipada, devemos unir esforços no sentido de ampliar os mecanismos democráticos à escala municipal, debatendo e propondo medidas que visem a revitalização da participação política e cultural enquanto acção colectiva do direito à cidade.”